sábado, 18 de janeiro de 2014

Resenha: Quem é você, Alasca? - John Green



   Bem, pessoas, esse foi um livro muito especial para mim e é um pouco difícil falar dele de uma forma imparcial... Foi o segundo livro do John Green que eu li (o primeiro foi Cidades de Papel e só depois li A Culpa é das Estrelas) e gostei mais desse do que dos outros.
   Para começar, quem já leu algum livro do John Green sabe como o texto é fácil e gostoso de ler. As descrições e sensações dos personagens são transcritas para o livro com uma linguagem própria de adolescentes (sem forçar muito nas gírias) e com nada rebuscado demais. Isso faz com que terminemos o livro bem rápido; acho que li o meu em 2 dias e só não terminei antes porque foram 2 dias especialmente conturbados nas minhas férias.
   É o primeiro romance de John Green e, para mim, ele já acertou em cheio. A história fala de Miles Halter, um garoto que tem mania de decorar as últimas palavras de pessoas famosas e resolve sair do colegial normal e ir para um colégio interno, o mesmo em que seu pai estudou. Essa decisão é muito explorada no decorrer do livro, mas o que fica mais marcante é que ele 'vai em busca do grande talvez'. É perceptível que ele não tinha amigos no colégio anterior e, muito provavelmente por causa das histórias contadas por seu pai do colégio interno em questão, ele resolveu buscar uma nova sorte de possibilidades, na qual poderia fazer amigos melhores e encontrar uma nova realidade (sempre correndo o risco de, no final, essa nova realidade ser pior que a anterior).
   Sobre a minha impressão do personagem principal, eu sinto uma espécie de arrogância ou egocentrismo por parte dele em muitas partes do livro. Parece que no decorrer do livro ele vai se tornando mais humilde, mas o egocentrismo permanece. De qualquer jeito, dá pra perceber que eu não gostei tanto do protagonista, né? Mas tudo bem, porque temos uma outra personagem que balanceia totalmente isso: Alasca! Eu acho que não dá pra deixar de falar que eu gostei muito desse personagem e arrisco até dizer que é o personagem literário que eu mais gostei até agora. Os motivos de eu ter gostado dela são muitos, mas não tem muita importância para essa resenha; portanto, só espero que vocês gostem tanto dela quanto eu (ou não, porque quero ser especial [rs]).
   Mas antes de fazer essa análise sobre os personagens é preciso falar mais um pouco sobre a história do livro: nos primeiros capítulos do livro, Miles conhece seu colega de quarto que tem o apelido de Coronel; este o apresenta aos seus amigos Alasca e Takumi. Logo Miles é apelidado de 'gordo' ('pudge' em inglês), como ironia por sua magreza, e acaba desenvolvendo sentimentos mais fortes em relação à Alasca. Só que acontece que Alasca tem um namorado, e aí o conflito clichê do triângulo amoroso acontece de uma forma um pouco imprevisível (pelo menos para mim).
   Só que antes de você imaginar que o livro é sobre o romance proibido entre os dois [-q], saiba que o texto foca mais na experiência escolar do Gordo, suas experiências juvenis e suas descobertas sobre sua amiga/enamorada Alasca. Só que um acontecimento no meio do livro tem uma importância fundamental na história. Esse evento divide o livro em duas partes, literalmente. Tanto que o começo do livro tem seus 'capítulos' divididos por quanto tempo falta para o evento acontecer (começa com "CENTO E TRINTA E SEIS DIAS ANTES" e termina com "CENTO E TRINTA E SEIS DIAS DEPOIS").
   É necessário tratar de um ponto que com certeza é polêmico, sobretudo perante os fãs de John Green: os personagens principais fumam cigarros, apesar de serem menores de idade. Isso pode ser um choque pra quem leu A Culpa é das Estrelas e acha que cigarro só pode servir para a metáfora do Augustus Waters e tudo mais... Mas se querem a minha opinião, eu acho que ele tratou o tema de maneira honesta. O livro trata de mostrar as experiências que adolescentes, em geral, tem nos Estados Unidos, mostrando inclusive os trotes que os alunos pregam uns nos outros e nos responsáveis pelo colégio. Na minha experiência de vida eu acho justo mostrar que o fato de alguns jovens fumarem, apesar da crença instaurada na nova juventude, não influencia tanto no caráter da maioria das pessoas. Já pensei na possibilidade do John Green ter se arrependido de escrever sobre jovens fumantes, após conhecer a história de pessoas portadoras de câncer, mas eu acho que o John Green teve bom senso ao retratar o uso de drogas sem fazer apologia à elas.
   Eu não lembro de ter encontrado muitos erros ortográficos no livro, e a edição que eu comprei (3ª tiragem [2013], da WMF Martins Fontes) tem uma capa muito parecida com a segunda capa da figura acima, mas a fonte do título é mais quadrada e "Alasca?" está escrito em branco. Eu achei a capa bonita (melhor que aquela capa preta com uma margarida) mas achei que as folhas são muito ásperas (provavelmente são feitas de papel polen bold) e dão uma impressão de mau-acabamento.
   Enfim, tenho que falar que esse livro, mais do que os outros livros do John Green, me fez refletir muito, principalmente sobre a natureza do mundo, a vida e a experiência que conseguimos acumular com as filosofias antigas. Em uma escala de 0 a 10 eu daria um 9 para este livro. Me marcou muito, com certeza!

Resenha: O Oceano no Fim do Caminho - Neil Gaiman


   Resolvi ler este livro por indicação de um vlog literário que costumo acompanhar, para aproveitar as férias e ler o máximo possível antes de voltar às aulas. Nunca tinha lido um livro do Neil Gaiman, apesar de já ter ouvido muito meus amigos comentarem de sua série de quadrinhos, Sandman. Depois de ler, descobri que a história foi construída, originalmente, para ser apenas um conto, o que explica o tamanho do livro (a 1ª edição [2013] em português tem apenas 205 páginas).
   A história trata de uma lembrança da infância do personagem principal que, após a cerimônia de um funeral, resolve visitar a casa em que morava quando criança, mesmo sabendo que ela já havia sido demolida há muitos anos. Movido por curiosidade ele acaba seguindo a estrada que o levava até a antiga casa e encontrou uma fazenda que havia sido especial na vida dele quando tinha 7 anos.
   O personagem narra os acontecimentos da época de forma com que suas impressões e seus sentimentos quando criança fossem expostos, fazendo com que consigamos entender as atitudes dele, ainda que muitas vezes não concordemos com ele. Vale lembrar que a infância do garoto foi na década de 1960 na Inglaterra, tendo como fundo um cenário interessante sem muita tecnologia e que remete de fato à um tempo sereno e nostálgico. Durante a parte mais difícil da história é estranho lembrar que se trata de uma criança de apenas 7 anos, pois nesse ponto são relatadas decisões que, para mim, são extremamente maduras; mas pode-se atribuir à isso o fato dele ter tido que amadurecer um pouco mais precocemente do que a maioria das pessoas que conheço.
   A presença de seres 'sobrenaturais' é o problema e a salvação do garoto. A natureza exata desses seres não é explicitada mas os seus efeitos são aprofundados no livro e cria um contexto muito divertido quando já se está no fim do livro. Com certeza, a parte que mais gostei foi essa 'magia' (que, na verdade, é tratado mais como uma forma de conhecimento ou ciência) secreta de formas novas. O gosto de infância também é algo forte, mesmo para leitores que, como eu, nasceram na década de 1990: aquele sabor doce de não ter muitas obrigações e uma imaginação fértil combinado com o amargo de não entender muita coisa e ser subestimado pelos adultos.
   A edição e revisão pela editora Intrínseca ficou muito boa: achei a capa muito bonita apesar de um pouco assustadora a princípio e não encontrei erros nem problemas com a tradução. É possível encontrar o livro por menos de 20 reais, o que acho que compensa. A leitura me satisfez, pelos segredos e pela sensibilidade, mas a história não é das mais marcantes. De uma escala de 0 a 10, daria um 6,5 para o livro.